26/02/2013

#serie Atemporal


Cap 18 – Novo Ciclo

    Outubro passou maravilhoso e demorado, mas passou. Novembro também passou. Não foi um mês tão bom e graças a Deus ele passou. Aconteceram grandes atribulações em meu trabalho, mais uma crise, mas tudo se normalizou depois.
    Enfim, chegou dezembro e ele indicava muitas coisas, principalmente o fim do curso com as meninas do turno da manhã. Elas concluíram antes do previsto e em dezembro já haviam concluído os cinco estágios que durava o curso que aderiram. Marcamos de entregar os certificados na sala de aula mesmo e fizemos uma festa. No final do ano apenas quinze pessoas formavam a turma concluinte.
 
    A festa foi totalmente organizada por elas. Cada uma poderia levar dois acompanhantes e usaram roupas que combinavam. Essas coisas que concluintes fazem. Escolheram a próprio gosto a trilha sonora da festa, mas sei que demoraram em encontrar um gosto em comum.    Uma coisa que eu não sabia e que soube no dia da festa era que Karolaine e Ana eram primas. Soube por que ela a convidou para a festa.
    Ela veio falar comigo e trouxe consigo um homem alto, forte e de pele morena, com tonalidade indígena. Lavínia havia ido ao banheiro.
- Oi, Ian. – Ana me abraçou.
- Oi, Ana. Faz tempo que não vejo você. – Eu disse. E era verdade. – Saiu do emprego?
- Saí. – Respondeu. – Eu casei outra vez. Esse é meu marido. O médico que lhe falei outro dia. O nome dele é Daniel.
    Apertei a mão dele.
- É um prazer conhecê-lo, Daniel. – Falei.
    Daniel sorriu.
- Igualmente, Ian.
    Tive medo do cara. Ele era enorme e tinha uma voz grossa.
    Lavínia voltou, mas reduziu a aproximação quando viu Ana.
- Eu também estou praticamente casado, Ana. – Segurei a mão de Lavínia e a puxei para mais perto de mim. – Com Lavínia.
    Ana não conseguiu disfarçar a surpresa.
- Eu já esperava por isso. – Disse. – Algum dia vocês ficariam juntos. Parabéns!
- Obrigada. – Lavínia falou.
    Surgiu uma tensão estranha ali por um tempo, mas depois Daniel percebeu e decidiu acabar com aquilo.
- Ana, por que você não me leva para beber alguma coisa? Estou com sede.
    Ela segurou sua mão e o olhou.
- Claro. Vamos. – Ana voltou a nos fitar. – Tchau, Ian. Tchau, Lavínia.
- Tchau. – Respondemos juntos.
    Ana foi embora com seu novo marido e Lavínia virou-se de frente para mim.
- Aquele era o marido dela? – Perguntou.
    Balancei positivamente a cabeça.
- É. O médico de 34 anos que ela me falou outro dia.
- Ele é bonito. – Disse.
- O quê? – Franzi o cenho. – Como você pode ver beleza naquilo, Lina? Um brutamonte enorme que aparenta ter sido fabricado numa montadora de veículos é bonito?
    Ela riu.
- Está com ciúmes?
- Não. – Mas estava. Só que não de Ana, mas de Lavínia por haver se encantado pelo atual marido de minha ex-mulher. – Só não gostei de você dizendo que esse Daniel é bonito.
     Lavínia continuava rindo.
- Você é muito besta mesmo. – Falou. – Eu só o achei bonito. E isso não significa nada, nem desvaloriza você. Entende?
    Nossa pequena discussão foi interrompida pela chegada de Kelly.
- Oi, professor. Desculpe interromper, mas todos já chegaram. Podemos começar?
    Virei para ela.
- Ah, claro. – Eu disse. – E, Kelly, você se lembra da carona que me deu quando o pneu de meu carro furou?
- E que se não fosse por aquela carona você não chegaria a tempo de comemorar o aniversário de sua namorada? – Completou. – Como eu poderia esquecer? Foi o único dia de minha vida que alguém me elogiou e disse que eu sou especial.
    Eu ri.
- Então... Essa é a namorada que você ajudou a presentear. – Apontei para Lavínia.
- Que legal! – Kelly a abraçou. – Oi. É um prazer conhecê-la, Lavínia. Ian falou muito bem de você e não estava errado.
- Obrigada, Kelly. E o prazer é todo meu. – Disse Lavínia.
    Kelly voltou a me olhar.
- Desculpem, mas eu tenho que ir. Organizar festas não é tão fácil. – Ela riu. – Já vamos começar. Preparem-se!
    Ela foi embora e Lavínia me olhou.
- Foi essa garota que beijou você? – Sua pergunta era séria.
- Não. – Eu ri. – A garota que me beijou se chamava Emilly e ela nem está aqui hoje.
- O que é muito bom porque não estou com vontade de brigar.
- Por que você não deixa de remexer nessa história? – Perguntou. – Já passou. Agora apenas uma pessoa me interessa. Você.
    Ela me beijou.
- Vamos deixar o clichê de lado e focar apenas na festa dos seus alunos, tudo bem? – Seu tom era sério. – Mais tarde nós resolveremos isso.
- Ok. Mais tarde.
   A festa começou de verdade. Não foi bem um evento de gala e essas coisas, mas foi sofisticado, digamos assim. As meninas organizaram uma entrada de efeito, desenvolveram um bom entretenimento para a continuidade do evento e por fim veio o momento em que o orador da turma iria discursar. Não seria necessário, até porque não era uma formatura escolar, mas elas insistiram em fazer parecido.
    A oradora foi Karolaine. Ela subiu ao pequeno palco, retirou uma folha de um envelope e começou a ler:
- Boa noite a todos. Nós não somos exatamente uma turma de alunos, tampouco um grupo de estudantes.  – Ela pigarreou. – Não somos os melhores, não somos os mais dedicados, nem os mais estudiosos... Somos simplesmente pessoas que buscaram obter um melhor preparo para o caminho que querem seguir. Quando iniciamos o curso não éramos nada. Não sabíamos patavina nenhuma, mas fomos aprendendo aos poucos, iniciando o novo ciclo que estava começando em nossa vida... Enfim. A vida nos faz passar por esses ciclos, que sempre acarretam difíceis decisões. – Karolaine revezava entre olhar para a folha e encarar a platéia a sua frente. – Agora estamos concluindo mais um desses ciclos e iniciando outro. Nossa vida passa agora por um início de um novo ciclo. É agora que temos de tomar as decisões difíceis, decidir o que queremos para nosso futuro. No entanto, não será tão fácil esquecer tudo o que passamos. Tudo o que aprendemos. Tudo o que foi vivido... Nesse caso devemos um “muito obrigado” ao nosso professor Ian. Foi ele quem nos uniu e quem nos proporcionou essa experiência. Portanto, professor, se nós temos que comemorar algo, nós comemoramos você, pois todo grande vencedor foi treinado por um grande mestre.
    Todos aplaudiram.
    Confesso que fiquei emocionado com a homenagem das meninas. Eu não esperava por isso. E ainda Karolaine veio me buscar para discursar lá em cima do pequeno palco que foi montado. Foi muito bonito. Mesmo.
- Bom, minhas queridas, muito obrigado pela homenagem. É gratificante para um professor receber uma demonstração de carinho dessas. Eu realmente não sei como agradecer. – Eu ri. – Bom, eu não preparei nenhum discurso, então terei de improvisar. Confesso que fiquei surpreso quando me dei conta de que a turma da manhã de meu curso era formada apenas por garotas. Era um evento incomum até... Mas depois percebi que era bom ter uma turma formada apenas por garotas, pois, além de serem belas meninas, era mais fácil de lidar e de repassar o conteúdo a ser aplicado... Eu sei que posso não ser o melhor professor, moças. Que vocês podem não haver tido a melhor formação. Mas sei que aprendemos muita coisa nesse tempo que passamos juntos. E se eu posso concluir esse meu simples discurso com uma palavra será “saudade”. De tudo o que vivi, ensinei e aprendi com vocês. Não há dinheiro no mundo que pague o que presenciamos aqui. Boa sorte para vocês e espero que todas consigam realizar o que tanto objetivam. Um abraço.
    Fui aplaudido de pé por todos e depois a festa continuou. Nunca fui homenageado em nenhum momento de minha vida. Isso era o que me deixava orgulhoso daquelas meninas. Saber que elas eram humildes e valorizaram todo o trabalho que tive para prepará-las. Não fui o melhor professor, mas também me esforcei para que todas chegassem aonde chegaram.
- Agora eu sei por que essas meninas se apaixonam tanto por você, Ian. – Disse Lavínia logo que voltei a me sentar ao seu lado.
    Dei um meio sorriso e franzi o cenho.
- Por quê?
- Não tem como não gostar de você. – Ela falava sério. – É natural da sua personalidade. Com você não tem tempo ruim. Você é alegre, espontâneo e bonito. É o par perfeito.
    Fiz silêncio e absorvi suas palavras.
- Eu sou bonito? – Fui irônico.
    Ela riu.
- E muito babaca também.
    Beijei seu rosto.
- Eu sei que você me ama. – Eu ri. – E é por isso que sou assim tão perfeito. Porque eu me sinto obrigado a corresponder a esse amor.
- Interessante. – Disse Lavínia. – Bom saber que me amar é apenas uma obrigação.
    Lancei-lhe um olhar malicioso.
- Mais tarde nós resolveremos isso.
- Ok. Mais tarde.
    A festa foi boa, divertida, mas acabou. Cássia não foi, e senti sua falta.
    Voltamos para casa com a certeza de que foi muito bom o período do curso, mas que agora todos guardariam apenas como boas lembranças. Uma nova fase se iniciava na vida delas e outra se iniciava no curso e assim a vida seguia. Nos ciclos finitos que a constituem, quando acaba um começa o outro. Infelizmente, meu ciclo com aquelas meninas terminou.
    Entramos em casa. Nossa relação estava tornando-se monótona. Revezávamos entre sair e dormir em sua casa. Fazia uns três meses que Lavínia não ia ao meu apartamento e nem era mais tão divertido ficar em sua imensa casa. Faltava alguma coisa e eu já sabia o que era.
    Ela colocou as chaves em cima da mesa de centro e virou-se para mim.
- Você vai dormir aqui hoje? – Perguntou.
    Suspirei.
- Não... Nós não vamos dormir hoje.
     Ela riu.
- Por quê?
- Eu tenho uma idéia melhor. – Disse. – Mais deliciosa. – Aproximei-me aos poucos. – Acho que você precisa de um homem de verdade hoje. Sem sensibilidade e totalmente primitivo.
- E como seria esse homem?
- Assim...
    Aproximei-me mais dela e a puxei pela cintura de encontro ao meu corpo. Se havia uma hora para apimentar a relação, aquela era à hora. Senti um pouco de estranhamento por parte dela, afinal eu nunca havia agido daquela forma. Mais rude e indelicado.
- Por que você está fazendo isso? – Ela perguntou.
    Comecei a tirar sua roupa.
- Está se tornando chato e monótono apenas dormir aqui com você. – Eu disse enquanto beijava seu corpo. – Nenhuma mulher se sente mulher de verdade quando seu homem não a ajuda a se sentir. – Comecei a tirar minha roupa. – Eu quero lhe ajudar a se sentir mulher. Desejada, amada e realizada.
    Deitei-a no sofá.
- Mas eu gosto do seu jeito delicado. – Ela riu.
- Não. Se eu fosse gay seria legal, mas eu não sou.
- Isso é fruto de um pensamento machista.
- Mas essa é a realidade. Eu não sou contra os gays, mas não quero parecer um, pois nosso relacionamento poderia se tornar algo lésbico. – Brinquei. – Eu posso ser carinhoso com você, mas não constantemente... E eu sei que você gosta dessa coisa máscula e bruta que os homens têm. Eu quero que você conheça esse meu lado másculo e bruto também.
    Lavínia suspirou.
- Tudo bem. Mostre-me.
- Faça silêncio e relaxe. – Falei.
    Acho que não deu para relaxar, pois foi intenso. Muito intenso.

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