Cap 18 – Novo Ciclo
Outubro passou maravilhoso e demorado, mas
passou. Novembro também passou. Não foi um mês tão bom e graças a Deus ele
passou. Aconteceram grandes atribulações em meu trabalho, mais uma crise, mas
tudo se normalizou depois.
Enfim, chegou dezembro e ele indicava
muitas coisas, principalmente o fim do curso com as meninas do turno da manhã.
Elas concluíram antes do previsto e em dezembro já haviam concluído os cinco
estágios que durava o curso que aderiram. Marcamos de entregar os certificados
na sala de aula mesmo e fizemos uma festa. No final do ano apenas quinze
pessoas formavam a turma concluinte.
A festa foi totalmente organizada por elas.
Cada uma poderia levar dois acompanhantes e usaram roupas que combinavam. Essas
coisas que concluintes fazem. Escolheram a próprio gosto a trilha sonora da
festa, mas sei que demoraram em encontrar um gosto em comum. Uma coisa que eu não sabia e que soube no
dia da festa era que Karolaine e Ana eram primas. Soube por que ela a convidou
para a festa.
Ela veio falar comigo e trouxe consigo um
homem alto, forte e de pele morena, com tonalidade indígena. Lavínia havia ido
ao banheiro.
-
Oi, Ian. – Ana me abraçou.
-
Oi, Ana. Faz tempo que não vejo você. – Eu disse. E era verdade. – Saiu do
emprego?
-
Saí. – Respondeu. – Eu casei outra vez. Esse é meu marido. O médico que lhe
falei outro dia. O nome dele é Daniel.
Apertei a mão dele.
- É
um prazer conhecê-lo, Daniel. – Falei.
Daniel sorriu.
-
Igualmente, Ian.
Tive medo do cara. Ele era enorme e tinha
uma voz grossa.
Lavínia voltou, mas reduziu a aproximação
quando viu Ana.
- Eu
também estou praticamente casado, Ana. – Segurei a mão de Lavínia e a puxei
para mais perto de mim. – Com Lavínia.
Ana não conseguiu disfarçar a surpresa.
- Eu
já esperava por isso. – Disse. – Algum dia vocês ficariam juntos. Parabéns!
-
Obrigada. – Lavínia falou.
Surgiu uma tensão estranha ali por um
tempo, mas depois Daniel percebeu e decidiu acabar com aquilo.
-
Ana, por que você não me leva para beber alguma coisa? Estou com sede.
Ela segurou sua mão e o olhou.
-
Claro. Vamos. – Ana voltou a nos fitar. – Tchau, Ian. Tchau, Lavínia.
-
Tchau. – Respondemos juntos.
Ana foi embora com seu novo marido e
Lavínia virou-se de frente para mim.
-
Aquele era o marido dela? – Perguntou.
Balancei positivamente a cabeça.
- É.
O médico de 34 anos que ela me falou outro dia.
-
Ele é bonito. – Disse.
- O
quê? – Franzi o cenho. – Como você pode ver beleza naquilo, Lina? Um brutamonte
enorme que aparenta ter sido fabricado numa montadora de veículos é bonito?
Ela riu.
-
Está com ciúmes?
-
Não. – Mas estava. Só que não de Ana, mas de Lavínia por haver se encantado
pelo atual marido de minha ex-mulher. – Só não gostei de você dizendo que esse
Daniel é bonito.
Lavínia
continuava rindo.
-
Você é muito besta mesmo. – Falou. – Eu só o achei bonito. E isso não significa nada, nem desvaloriza você.
Entende?
Nossa pequena discussão foi interrompida
pela chegada de Kelly.
-
Oi, professor. Desculpe interromper, mas todos já chegaram. Podemos começar?
Virei
para ela.
-
Ah, claro. – Eu disse. – E, Kelly, você se lembra da carona que me deu quando o
pneu de meu carro furou?
- E
que se não fosse por aquela carona você não chegaria a tempo de comemorar o
aniversário de sua namorada? – Completou. – Como eu poderia esquecer? Foi o
único dia de minha vida que alguém me elogiou e disse que eu sou especial.
Eu ri.
-
Então... Essa é a namorada que você ajudou a presentear. – Apontei para
Lavínia.
-
Que legal! – Kelly a abraçou. – Oi. É um prazer conhecê-la, Lavínia. Ian falou
muito bem de você e não estava errado.
- Obrigada,
Kelly. E o prazer é todo meu. – Disse Lavínia.
Kelly voltou a me olhar.
-
Desculpem, mas eu tenho que ir. Organizar festas não é tão fácil. – Ela riu. –
Já vamos começar. Preparem-se!
Ela foi embora e Lavínia me olhou.
-
Foi essa garota que beijou você? – Sua pergunta era séria.
-
Não. – Eu ri. – A garota que me beijou se chamava Emilly e ela nem está aqui
hoje.
- O
que é muito bom porque não estou com vontade de brigar.
-
Por que você não deixa de remexer nessa história? – Perguntou. – Já passou.
Agora apenas uma pessoa me interessa. Você.
Ela me beijou.
-
Vamos deixar o clichê de lado e focar apenas na festa dos seus alunos, tudo
bem? – Seu tom era sério. – Mais tarde nós resolveremos isso.
-
Ok. Mais tarde.
A festa começou de verdade. Não foi bem um
evento de gala e essas coisas, mas foi sofisticado, digamos assim. As meninas
organizaram uma entrada de efeito, desenvolveram um bom entretenimento para a
continuidade do evento e por fim veio o momento em que o orador da turma iria
discursar. Não seria necessário, até porque não era uma formatura escolar, mas
elas insistiram em fazer parecido.
A oradora foi Karolaine. Ela subiu ao
pequeno palco, retirou uma folha de um envelope e começou a ler:
- Boa
noite a todos. Nós não somos exatamente uma turma de alunos, tampouco um grupo
de estudantes. – Ela pigarreou. – Não
somos os melhores, não somos os mais dedicados, nem os mais estudiosos... Somos
simplesmente pessoas que buscaram obter um melhor preparo para o caminho que
querem seguir. Quando iniciamos o curso não éramos nada. Não sabíamos patavina
nenhuma, mas fomos aprendendo aos poucos, iniciando o novo ciclo que estava
começando em nossa vida... Enfim. A vida nos faz passar por esses ciclos, que sempre
acarretam difíceis decisões. – Karolaine revezava entre olhar para a folha e
encarar a platéia a sua frente. – Agora estamos concluindo mais um desses
ciclos e iniciando outro. Nossa vida passa agora por um início de um novo
ciclo. É agora que temos de tomar as decisões difíceis, decidir o que queremos
para nosso futuro. No entanto, não será tão fácil esquecer tudo o que passamos.
Tudo o que aprendemos. Tudo o que foi vivido... Nesse caso devemos um “muito
obrigado” ao nosso professor Ian. Foi ele quem nos uniu e quem nos proporcionou
essa experiência. Portanto, professor, se nós temos que comemorar algo, nós
comemoramos você, pois todo grande vencedor foi treinado por um grande mestre.
Todos aplaudiram.
Confesso que fiquei emocionado com a homenagem
das meninas. Eu não esperava por isso. E ainda Karolaine veio me buscar para
discursar lá em cima do pequeno palco que foi montado. Foi muito bonito. Mesmo.
-
Bom, minhas queridas, muito obrigado pela homenagem. É gratificante para um professor
receber uma demonstração de carinho dessas. Eu realmente não sei como
agradecer. – Eu ri. – Bom, eu não preparei nenhum discurso, então terei de
improvisar. Confesso que fiquei surpreso quando me dei conta de que a turma da
manhã de meu curso era formada apenas por garotas. Era um evento incomum até...
Mas depois percebi que era bom ter uma turma formada apenas por garotas, pois,
além de serem belas meninas, era mais fácil de lidar e de repassar o conteúdo a
ser aplicado... Eu sei que posso não ser o melhor professor, moças. Que vocês
podem não haver tido a melhor formação. Mas sei que aprendemos muita coisa
nesse tempo que passamos juntos. E se eu posso concluir esse meu simples
discurso com uma palavra será “saudade”. De tudo o que vivi, ensinei e aprendi
com vocês. Não há dinheiro no mundo que pague o que presenciamos aqui. Boa sorte
para vocês e espero que todas consigam realizar o que tanto objetivam. Um
abraço.
Fui aplaudido de pé por todos e depois a
festa continuou. Nunca fui homenageado em nenhum momento de minha vida. Isso
era o que me deixava orgulhoso daquelas meninas. Saber que elas eram humildes e
valorizaram todo o trabalho que tive para prepará-las. Não fui o melhor
professor, mas também me esforcei para que todas chegassem aonde chegaram.
-
Agora eu sei por que essas meninas se apaixonam tanto por você, Ian. – Disse
Lavínia logo que voltei a me sentar ao seu lado.
Dei um meio sorriso e franzi o cenho.
-
Por quê?
-
Não tem como não gostar de você. – Ela falava sério. – É natural da sua personalidade.
Com você não tem tempo ruim. Você é alegre, espontâneo e bonito. É o par
perfeito.
Fiz silêncio e absorvi suas palavras.
- Eu
sou bonito? – Fui irônico.
Ela riu.
- E
muito babaca também.
Beijei seu rosto.
- Eu
sei que você me ama. – Eu ri. – E é por isso que sou assim tão perfeito. Porque
eu me sinto obrigado a corresponder a esse amor.
-
Interessante. – Disse Lavínia. – Bom saber que me amar é apenas uma obrigação.
Lancei-lhe um olhar malicioso.
-
Mais tarde nós resolveremos isso.
-
Ok. Mais tarde.
A festa foi boa, divertida, mas acabou. Cássia
não foi, e senti sua falta.
Voltamos para casa com a certeza de que foi
muito bom o período do curso, mas que agora todos guardariam apenas como boas
lembranças. Uma nova fase se iniciava na vida delas e outra se iniciava no
curso e assim a vida seguia. Nos ciclos finitos que a constituem, quando acaba
um começa o outro. Infelizmente, meu ciclo com aquelas meninas terminou.
Entramos em casa. Nossa relação estava
tornando-se monótona. Revezávamos entre sair e dormir em sua casa. Fazia uns
três meses que Lavínia não ia ao meu apartamento e nem era mais tão divertido
ficar em sua imensa casa. Faltava alguma coisa e eu já sabia o que era.
Ela colocou as chaves em cima da mesa de
centro e virou-se para mim.
-
Você vai dormir aqui hoje? – Perguntou.
Suspirei.
-
Não... Nós não vamos dormir hoje.
Ela riu.
-
Por quê?
- Eu
tenho uma idéia melhor. – Disse. – Mais deliciosa. – Aproximei-me aos poucos. –
Acho que você precisa de um homem de verdade hoje. Sem sensibilidade e
totalmente primitivo.
- E
como seria esse homem?
-
Assim...
Aproximei-me mais dela e a puxei pela
cintura de encontro ao meu corpo. Se havia uma hora para apimentar a relação,
aquela era à hora. Senti um pouco de estranhamento por parte dela, afinal eu
nunca havia agido daquela forma. Mais rude e indelicado.
-
Por que você está fazendo isso? – Ela perguntou.
Comecei a tirar sua roupa.
-
Está se tornando chato e monótono apenas dormir aqui com você. – Eu disse
enquanto beijava seu corpo. – Nenhuma mulher se sente mulher de verdade quando
seu homem não a ajuda a se sentir. – Comecei a tirar minha roupa. – Eu quero lhe
ajudar a se sentir mulher. Desejada, amada e realizada.
Deitei-a no sofá.
- Mas
eu gosto do seu jeito delicado. – Ela riu.
-
Não. Se eu fosse gay seria legal, mas eu não sou.
-
Isso é fruto de um pensamento machista.
-
Mas essa é a realidade. Eu não sou contra os gays, mas não quero parecer um,
pois nosso relacionamento poderia se tornar algo lésbico. – Brinquei. – Eu
posso ser carinhoso com você, mas não constantemente... E eu sei que você gosta
dessa coisa máscula e bruta que os homens têm. Eu quero que você conheça esse
meu lado másculo e bruto também.
Lavínia suspirou.
-
Tudo bem. Mostre-me.
-
Faça silêncio e relaxe. – Falei.
Acho que não deu para relaxar, pois foi
intenso. Muito intenso.
Nenhum comentário :
Postar um comentário
-Respondo todos cometários
-Por favor não use palavrões ou palavras ofensivas
-Se seguir o blog sigo o seu de volta
Agradeço por todos cometários