12/02/2013

# serie Atemporal

Capítulo 12 – Novidades

    Quando acordei no outro dia, Lavínia ainda estava dormindo. Aquela sensação de que tudo estava se repetindo era estranha. Lavínia dormindo, eu levantando com medo de acordá-la às seis da manhã. Exatamente como no dia anterior.
    Fui a minha casa, peguei o material do curso, tomei café e saí. Eu estava feliz, de certa forma. Lavínia havia me dado a chance que pedi, tecnicamente estávamos juntos e eu sentia um alívio em meu peito que nunca senti antes. Mas ainda estava em dúvida sobre muitas coisas, principalmente sobre o que eu estava sentindo por ela. Por isso era bom estarmos apenas tecnicamente juntos, porque assim tínhamos tempo de descobrir o que eram essas coisas e se queríamos realmente senti-las.
 
    Fiz o mesmo que sempre fiz quando saí de casa. Peguei o carro na garagem, liguei o rádio e segui até o ponto onde ficava a loja e o curso. Abri a loja e depois liguei os computadores da sala de aula. Menos de quinze minutos depois, os funcionários começaram a chegar e o rotineiro dia de técnico em informática se iniciou. Eu gostava.
    As aulas começavam sempre as oito, mas alguns alunos chegavam mais cedo, principalmente os iniciantes. Só que dessa vez outras pessoas chegaram cedo, pessoas essas que queriam se inscrever no curso, para a minha alegria.
    Um grupo de garotas entrou na sala, e elas vieram até minha mesa.
- Com licença. – Uma delas, que era alta, magra e de pele parda, se antecipou.
    Eu corrigia algumas redações.
- Pois não. – Levantei a cabeça.
- Gostaríamos de nos inscrever no curso. – Disse. – É aqui mesmo, com o senhor, que podemos fazer isso?
- Sim. É aqui mesmo. – Falei. – Mas não me chamem de senhor. Meu nome é Ian e provavelmente serei o professor de vocês, se assim quiserem. – Peguei uma pasta onde ficavam as fichas de inscrição ainda não preenchidas. – Por favor, dêem-me suas identidades e eu vou registrar seus dados.
    Todas me entregaram as identidades e vi o nome de cada uma: Emilly Alves, Karolaine Dantas, Eliandra Dantas, Lyzandra Teixeira, Fernanda Barbosa, Jasline Pessoa, Dandara Chagas e Francinilde Gomes. Todas com idade entre 15 e 20 anos. Mocinhas muito bonitas que se juntariam a Kelly na nova fase do curso, porque escolheram ficar no turno da manhã. Elas eram de Fagundes e estudavam no colégio Joana Emília à tarde, exceto Francinilde que estudava em outro colégio. Minha ida até lá trouxe bons resultados.
    Elas começaram naquele mesmo dia. E meio que se adaptaram rápido, mas eu começaria com as aulas teóricas e depois partiria para as aulas práticas. Aquelas garotas seria a salvação temporária de meu negócio. Eu sei que conseguiria outro emprego, e bem rápido, pois a área de engenharia necessita bastante de pessoas qualificadas e eu era qualificado, mas nada se compara a possuir seu próprio negócio.
    Naquela manhã não aconteceu nada de mais em minha vida. Iniciei o conteúdo com as alunas novas e concluí o conteúdo com os alunos que já estavam terminando e posteriormente receberiam seus certificados, mas tudo mudou quando saí para almoçar. Eu almoçava todos os dias em casa mesmo. Não trocaria a comida caseira de Doralice por qualquer coisa servida nos restaurantes de Campina Grande. A comida dela só não superava a de minha mãe.
    Retirei o carro do estacionamento ao lado da loja de consertos e quando entrei na rua, quase atropelei uma pessoa. Em meio aquele choque percebi que não era qualquer pessoa, era Ana. Legal! Quase atropelei e matei minha ex.
    Desci desesperado do carro.
- Você está bem? – Eu não sabia se havia batido nela ou não, porque ela estava caída.
    Ela me olhou.
- Ian?
- Oi. – Suspirei. – Você está bem?
- É. Estou. O carro não bateu em mim. Eu só me desequilibrei.
    Ajudei Ana a se levantar e saímos do meio da rua.
- O que você está fazendo aqui? – Perguntei. – Faz tempo que não a vejo. – Fui simpático, afinal nossa separação foi seis meses antes e não havia porque continuar brigando.
    Ela sorriu.
- Estou trabalhando agora. – Disse-me. – Sou vendedora de sapatos. Não é grande coisa, mas dá para ajudar minha mãe. Estou morando em Fagundes de novo, sabia?
- Que bom. – Falei. – E parabéns pelo seu emprego. Todo trabalho é sagrado. Nunca se esqueça disso.
    Houve uma pequena pausa.
- E você? O que aconteceu com você desde que nos separamos?
    A forma que ela nos colocou naquela pergunta pesou um pouco.
- Bom – Gaguejei. – Não aconteceram muitas coisas interessantes. Continuei sendo professor no curso, contratei uma empregada e é basicamente isso.
- E quanto ao coração? Encontrou alguém?
    Não sabia qual era sua intenção ao me perguntar isso, mas respondi:
- Não. Não estou buscando relacionamentos firmes agora. – Não queria falar em Lavínia, pois Ana a odiava de uma forma bem esquisita. – E você? Encontrou alguém?
    Ana deu um meio sorriso.
- Sim, encontrei. Ele é médico e tem 34 anos. – Falou. – Agora percebo que me separar de você foi à melhor coisa que já aconteceu em minha vida. – Ela fez todo esse teatro para jogar na minha cara que havia superado. – Não estou desmerecendo você, Ian. Nem me interprete mal, mas é a verdade. Foi bom o tempo que passamos juntos, mas acabou e agora eu aceitei.
- Eu fico muito feliz com isso. De verdade. – E era verdade. – Desejo que você seja muito feliz.
    Ela me abraçou.
- Eu preciso ir agora. Não posso chegar atrasada logo na minha primeira semana de emprego. E, talvez, nos vejamos todos os dias. Passo todos os dias aqui para ir à loja. – Disse. – Então esse abraço não será de despedida.
    Larguei seu corpo.
- Claro. Até logo.
- Até.
    Ana foi embora e eu fiquei parado ali na calçada igual a um idiota. Eu sabia que ela não havia mudado. Isso não era possível. Mas a dúvida permanecia. E se ela realmente tivesse mudado? Que diferença fazia em minha vida? Eu já nem tinha nada a ver com aquela mulher. Por que eu estava ali parado igual a um babaca derrotado?
    Caminhei até meu carro e voltei para casa. De qualquer forma, aquelas novidades todas daquela manhã mexeram comigo, mas de uma forma positiva. Que bom que Ana havia encontrado outra pessoa! Assim eu me sentia livre daquela praga. E melhor ainda: o novo namorado dela possuía 34 anos, assim teria maturidade para entender os problemas dela. Não foi ruim saber aquilo, se a intenção de Ana foi me fazer perceber que me separar dela foi um erro. Eu queria mesmo era seguir minha vida bem longe dela.
    As novidades daquele dia não ficaram apenas no período da manhã. À tarde, uma velha conhecida minha também se inscreveu no curso de computação: Cássia, minha ex quase namorada. Ela me garantiu que o interesse no curso era apenas profissional, mas não acreditei. Por que ela procurou justamente meu curso para aprender informática? De qualquer modo, aceitei sua inscrição, levando a risca o código de ética e comemorando o inesperado povoamento de minha sala de aula.
    Agosto passou. Foi tão bom, mas passou. Bom, não foi tão bom, mas minha vida sofreu grandes reviravoltas. Lavínia ainda não havia me dado nenhuma resposta e eu também não insisti, pois prometi que esperaria o tempo necessário para que ela se estabilizasse emocionalmente. Eu refleti muito durante esse tempo e me dei conta de que gostava dela de verdade. Não era só amizade ou um carinho muito forte, era amor mesmo.
    Eu já tinha 30 anos, deveria saber e entender que homens também sentem essas coisas. Não todos os homens, mas alguns sabem que sentem amor. Os que não sabem, é porque ainda não amaram.
    Honestamente, eu não sabia ainda o que era o amor, mas sabia que sentia. Eu sempre defendi Lavínia, a ajudei nos momentos difíceis, confiei meus segredos a ela... Sentia ciúme dos namorados dela, agora eu sabia que era ciúme e não implicância de amigo protetor. Ela tinha defeitos, mas eu não me importava com eles. Eu também tinha os meus. Aos meus olhos ela era perfeita, mas sem muita frescura. Essa baboseira de que para amar você tem que estar grudado vinte e quatro horas na pessoa é mentira. Basta apenas um minuto, aquele que passa bem rápido e te deixa com saudade, e você já se sente feliz. Acho até que a saudade é o que faz você saber que está amando alguém. Ela faz você saber de quem realmente gosta. E foi assim que descobri que estava gostando de Lavínia.
    Propus a ela ficarmos o restante do mês de agosto sem nos vermos. Ela precisava ficar um pouco sozinha e duas semanas seriam suficientes para ela sofrer sua tristeza. Eu também precisava desse tempo, então nós dois ganhamos.
    Mas, setembro chegou. E com ele veio uma enxurrada de expectativas. Primeiro porque meu acordo com Lavínia findaria seu prazo e, segundo porque seu aniversário estava chegando. 25 de setembro era o dia e 26 anos de vida ela completaria. Eu estava esperando ansiosamente por esse dia, mais do que ela talvez.
    Esperei passarem os primeiros dias do mês para poder conversar com ela, principalmente o dia 7 por causa de todos esses festejos em comemoração ao dia da independência brasileira. Eu não gostava disso. Em minha opinião, não havia porque comemorar aquilo.
atom (victiria silva)

Um comentário :

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