20/02/2013

serie Atemporal

 Capítulo 16 – Medo

    Ficamos deitados no chão por um bom tempo.
    Era madrugada, uma hora e cinqüenta e oito minutos da madrugada para ser mais exato. A sala estava parcialmente escura e silenciosa. Além do som da nossa respiração, nenhum outro barulho se ouvia. Estávamos deitados no chão frio, Lavínia com o corpo parcialmente deitado em cima de mim e eu envolvendo ele com um dos braços.
- A vida é surpreendente, não acha? – Perguntou Lavínia depois de alguns minutos em silêncio.
- Em que sentido?
    Ela trançou seus dedos nos meus e levantou nossas mãos.
- Em todos eles. Mas principalmente no sentido do amor. – Sua cabeça estava pousada em meu peito. – Eu não esperava encontrá-lo em você.
    É. Ela estava mais sensível naquela noite.
- É surpreendente a forma como tudo aconteceu. – Continuou. – Eu precisei me iludir durante quase dez anos para perceber que tudo o que eu estava procurando estava bem ao meu lado e eu não conseguia notar.
    Sorri.
 
- Pelo menos você se iludiu com muitas pessoas, enquanto eu me iludi apenas com uma. – Eu ri. – Honestamente, Lavínia, eu não possuí vida depois que me casei. Nem com você eu conversava. Algo que nunca aconteceu.
- É. Mas isso já passou. Ana e Wesley ficaram no nosso passado e é lá que eles permanecerão para sempre. – Disse ela. – Agora você é o meu presente e eu sou o seu. Sem nenhuma sombra do passado nos interrompendo e causando receio em nós.
    Beijei sua mão.
- Agora apenas nós dois importa. – Falei. Depois ri: – Vamos fazer igual àqueles casais dos filmes românticos, quando a mocinha diz “Eu te amo” e o mocinho diz “Eu também te amo” e os dois sorriem e se beijam?
    Ela riu.
- Vamos. – Lavínia se sentou. – Mas não deve ser dito de brincadeira.
    Também me sentei.
- Eu te amo. – Afirmei. – E isso não é brincadeira.
    Ela acariciou meu rosto.
- Eu também te amo. E isso não é brincadeira.
    Sorrimos e nos beijamos.
- Isso foi meio idiota. – Eu disse.
- Totalmente. – Ela riu.
    Beijamo-nos outra vez.
    Namorar Lavínia era bom por causa disso. Tudo o que eu fazia e dizia saía naturalmente. Não precisava ser forçado ou ensaiado. Era divertido. Ela era a pessoa perfeita para mim. Amiga, melhor amiga, companheira, namorada, amante... Tudo o que eu precisasse que ela seria. No entanto, percebi que ela havia se tornado isso tudo depois dessa noite. Não sei se o que lhe contei sobre Emilly a fez pensar que poderia me perder para qualquer uma, ou se o filme a afetou porque se tratava de uma história triste envolvendo dois amigos, mas fato é que sua mudança foi repentina. Só senti total segurança de sua parte naquela noite.
    Ela tirou os lábios dos meus.
- Eu não tenho mais medo de me envolver com você. – Disse. – Pensei que fosse ruim, que estragaria nossa amizade de tantos anos, mas agora percebo que ela apenas melhorou. – Lavínia riu. – Agora eu quero apenas ser sua, antes que me arrependa de uma forma mais dura e cruel.
    Agora eu entendia. O filme foi o causador da mudança.
    Beijei-a.
- Você sempre me irá me ter, Lavínia. Nosso amor vai além do tempo, da vida ou da morte. – Afaguei seu rosto. – Não precisa ter medo. Eu nunca irei deixar você.
    Ela me abraçou. O calor de seu corpo era estimulante.
- Eu agradeço a Deus por ter você ao meu lado, Ian. De verdade. Agradeço por ter alguém que vale mais do que qualquer pessoa de minha família, que vale mais do que qualquer riqueza do mundo... Eu estava errada esse tempo todo. Nós somos perfeitos juntos.
    Beijamo-nos de novo.
    “Somos perfeitos juntos”. Essa frase mexeu comigo. De verdade. Às vezes, as mulheres são tão emotivas que os homens acabam se tornando emotivos também. Eu convivi com uma mulher emotiva durante vinte anos de minha vida, então alguma coisa emotiva deve ter crescido em mim. Fato é que Lavínia era muito emotiva, demais. Quando uma coisa lhe afetava emocionalmente, ela demorava a se recuperar. O fim de seu relacionamento com Wesley foi à maior prova disso.
    Era interessante agora lembrar Wesley. Tudo o que lhe causava ciúme estava se tornando real. Ele temia que minha amizade com Lavínia lhe acarretasse um par de chifres e, no final das contas, a dúvida existente tornou-se uma realidade. Entretanto, quando eles namoravam, eu não tinha essas segundas intenções, muito menos Lavínia.
    Incrível!
    Dormi tarde e acordei cedo. Foi ruim. Muito ruim. Mas ainda consegui dar aula no curso. Quando cheguei descobri que Emilly havia desistido. Que pena. Talvez por vergonha, ou medo, mas desistiu e eu não poderia fazer nada. O período da manhã era o mais cheio. Cerca de trinta alunos, onde as meninas de Fagundes, Cássia e Kelly se destacavam. Porém, somente essas meninas se destacavam. Os outros alunos não queriam estudar de forma séria e levavam tudo na brincadeira. Eu ficava estressado.
    Eu já não conseguia lidar mais com tudo sozinho. Precisava urgentemente de uma secretária ou secretário, tanto faz. A demanda do curso aumentou, a loja de consertos continuou crescendo e talvez já pudesse se tornar uma oficina ampliada, ou seja, passávamos por um período de vacas gordas. Mas eu sozinho não conseguia dar conta de tudo.
    Foi então que Lavínia me sugeriu contratar sua irmã para ser minha secretária. Gostei da idéia e contratei Marcela para exercer o cargo. Ela se mostrou eficiente e fixei o emprego. No entanto, ela só trabalhava comigo pela manhã, pois estudava à tarde e cuidava da mãe à noite, ou seja, ela tinha que se virar em quinze para dar conta de tudo. Mas, no final das contas, ela se adaptou logo a rotina.
atom(victoria silva)

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