Capítulo 16 – Medo
Ficamos deitados no chão por um bom tempo.
Era madrugada, uma hora e cinqüenta e oito
minutos da madrugada para ser mais exato. A sala estava parcialmente escura e
silenciosa. Além do som da nossa respiração, nenhum outro barulho se ouvia.
Estávamos deitados no chão frio, Lavínia com o corpo parcialmente deitado em
cima de mim e eu envolvendo ele com um dos braços.
- A
vida é surpreendente, não acha? – Perguntou Lavínia depois de alguns minutos em
silêncio.
- Em
que sentido?
Ela trançou seus dedos nos meus e levantou
nossas mãos.
- Em
todos eles. Mas principalmente no sentido do amor. – Sua cabeça estava pousada
em meu peito. – Eu não esperava encontrá-lo em você.
É. Ela estava mais sensível naquela noite.
- É
surpreendente a forma como tudo aconteceu. – Continuou. – Eu precisei me iludir
durante quase dez anos para perceber que tudo o que eu estava procurando estava
bem ao meu lado e eu não conseguia notar.
Sorri.
-
Pelo menos você se iludiu com muitas
pessoas, enquanto eu me iludi apenas com uma. – Eu ri. – Honestamente, Lavínia,
eu não possuí vida depois que me casei. Nem com você eu conversava. Algo que
nunca aconteceu.
- É.
Mas isso já passou. Ana e Wesley ficaram no nosso passado e é lá que eles
permanecerão para sempre. – Disse ela. – Agora você é o meu presente e eu sou o
seu. Sem nenhuma sombra do passado nos interrompendo e causando receio em nós.
Beijei sua mão.
- Agora
apenas nós dois importa. – Falei. Depois ri: – Vamos fazer igual àqueles casais
dos filmes românticos, quando a mocinha diz “Eu te amo” e o mocinho diz “Eu
também te amo” e os dois sorriem e se beijam?
Ela riu.
-
Vamos. – Lavínia se sentou. – Mas não deve ser dito de brincadeira.
Também me sentei.
- Eu
te amo. – Afirmei. – E isso não é brincadeira.
Ela acariciou meu rosto.
- Eu
também te amo. E isso não é brincadeira.
Sorrimos e nos beijamos.
-
Isso foi meio idiota. – Eu disse.
-
Totalmente. – Ela riu.
Beijamo-nos outra vez.
Namorar Lavínia era bom por causa disso.
Tudo o que eu fazia e dizia saía naturalmente. Não precisava ser forçado ou
ensaiado. Era divertido. Ela era a pessoa perfeita para mim. Amiga, melhor
amiga, companheira, namorada, amante... Tudo o que eu precisasse que ela seria.
No entanto, percebi que ela havia se tornado isso tudo depois dessa noite. Não
sei se o que lhe contei sobre Emilly a fez pensar que poderia me perder para
qualquer uma, ou se o filme a afetou porque se tratava de uma história triste
envolvendo dois amigos, mas fato é que sua mudança foi repentina. Só senti
total segurança de sua parte naquela noite.
Ela tirou os lábios dos meus.
- Eu
não tenho mais medo de me envolver com você. – Disse. – Pensei que fosse ruim,
que estragaria nossa amizade de tantos anos, mas agora percebo que ela apenas
melhorou. – Lavínia riu. – Agora eu quero apenas ser sua, antes que me
arrependa de uma forma mais dura e cruel.
Agora eu entendia. O filme foi o causador
da mudança.
Beijei-a.
-
Você sempre me irá me ter, Lavínia. Nosso amor vai além do tempo, da vida ou da
morte. – Afaguei seu rosto. – Não precisa ter medo. Eu nunca irei deixar você.
Ela me abraçou. O calor de seu corpo era
estimulante.
- Eu
agradeço a Deus por ter você ao meu lado, Ian. De verdade. Agradeço por ter
alguém que vale mais do que qualquer pessoa de minha família, que vale mais do
que qualquer riqueza do mundo... Eu estava errada esse tempo todo. Nós somos
perfeitos juntos.
Beijamo-nos de novo.
“Somos perfeitos juntos”. Essa frase mexeu
comigo. De verdade. Às vezes, as mulheres são tão emotivas que os homens acabam
se tornando emotivos também. Eu convivi com uma mulher emotiva durante vinte
anos de minha vida, então alguma coisa emotiva deve ter crescido em mim. Fato é
que Lavínia era muito emotiva, demais. Quando uma coisa lhe afetava
emocionalmente, ela demorava a se recuperar. O fim de seu relacionamento com
Wesley foi à maior prova disso.
Era interessante agora lembrar Wesley. Tudo
o que lhe causava ciúme estava se tornando real. Ele temia que minha amizade
com Lavínia lhe acarretasse um par de chifres e, no final das contas, a dúvida
existente tornou-se uma realidade. Entretanto, quando eles namoravam, eu não
tinha essas segundas intenções, muito menos Lavínia.
Incrível!
Dormi tarde e acordei cedo. Foi ruim. Muito
ruim. Mas ainda consegui dar aula no curso. Quando cheguei descobri que Emilly
havia desistido. Que pena. Talvez por vergonha, ou medo, mas desistiu e eu não
poderia fazer nada. O período da manhã era o mais cheio. Cerca de trinta
alunos, onde as meninas de Fagundes, Cássia e Kelly se destacavam. Porém, somente
essas meninas se destacavam. Os outros alunos não queriam estudar de forma
séria e levavam tudo na brincadeira. Eu ficava estressado.
Eu já não conseguia lidar mais com tudo
sozinho. Precisava urgentemente de uma secretária ou secretário, tanto faz. A
demanda do curso aumentou, a loja de consertos continuou crescendo e talvez já
pudesse se tornar uma oficina ampliada, ou seja, passávamos por um período de
vacas gordas. Mas eu sozinho não conseguia dar conta de tudo.
Foi então que Lavínia me sugeriu contratar
sua irmã para ser minha secretária. Gostei da idéia e contratei Marcela para
exercer o cargo. Ela se mostrou eficiente e fixei o emprego. No entanto, ela só
trabalhava comigo pela manhã, pois estudava à tarde e cuidava da mãe à noite,
ou seja, ela tinha que se virar em quinze para dar conta de tudo. Mas, no final
das contas, ela se adaptou logo a rotina.
atom(victoria silva)
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