03/03/2013

#Serie Atemporal


Cap:19

Comédia Romântica

    Ficamos vendo um filme depois que tomamos banho. Eu não trabalharia no outro dia e Lavínia só sairia à tarde. Como ela era uma psicóloga particular, trabalhava todos os dias. Dezembro aproximava-se do fim e o mundo também, pois faltava apenas cinco dias para a data prevista pela profecia Maia. 21 de dezembro. O fim. Que louco!
    Enfim, estávamos assistindo mais uma comédia romântica. O interessante era que toda vez que parávamos para ver filmes Lavínia sempre trazia um diferente. Talvez ela possuísse um arsenal de 300 longas. Meu Deus! Haja paciência! Mas até que o filme era legal. A protagonista era sexy, continha certa nudez e contava a história de um casal que se conhecia numa faculdade e se tornavam amigos, depois eles se apaixonavam, mas o cara traía a garota. Bem clichê, mas interessante. Era aquele tipo de filme que você já prevê o final, mas ainda assim continua assistindo.
    Estávamos sentados no sofá. Lavínia com a cabeça pousada em meu ombro, com as pernas em cima das minhas e eu com os pés em cima da mesa de centro. Era bom e quentinho. Aconchegante, eu diria. Ela usava suas pantufas do Mickey.
- Não sei por que os homens traem. – Disse Lavínia no momento do filme em que a mocinha descobriu que foi traída. – Os homens não merecem as mulheres, pois eles são falsos com elas. A mulher nunca é falsa com o homem, só com as amigas.
 
    Eu ri.
- E por que só com as amigas?
- Há situações em que as mulheres precisam ser falsas com as amigas. – Explicou. – Quando vai dar opinião, por exemplo.
    Olhei para ela.
- Você é falsa com suas amigas?
- Quais amigas? – Lavínia foi irônica. – As poucas que tinha, eu não as vejo há uns oito meses... Só me sobrou você. E com você eu nunca serei falsa.
    Acariciei seu rosto.
- Eu também nunca serei falso com você, mesmo que eu seja um homem. – Eu ri. – Você sabe que o que eu sinto é verdadeiro.
    Ela me beijou.
- Eu sei. E sinto o mesmo. – Lavínia voltou a fitar sua TV. – Mas vamos terminar de ver o filme, porque eu quero saber se eles vão ficar juntos.
- É claro que eles vão.
- Cale a boca! – Disse. – Eu quero ver mesmo assim.
    Eu ri.
- Tudo bem. Mas até você sabe como esse filme vai acabar.
    Lavínia riu.
- Ok. Eu sei. Mas eu quero ver. – Falou. – Deixa de ser chato!
- Tudo bem. Vou deixar de ser chato.
    Lavínia voltou a pousar a cabeça em meu ombro e focamos apenas no filme. A protagonista ficou desesperada quando soube da traição, depois o cara começou a cercá-la pedindo para voltar, mas ela não queria perdoá-lo e ficava naquele impasse: o amava, mas não queria perdoar sua traição por medo de que acontecesse novamente. Nada que eu nunca tenha visto antes.
    Foi então que naquele momento pensei numa coisa e queria dividir com Lavínia. Talvez fosse cedo, mas me veio repentinamente na mente. E, talvez, ela fosse contra meu pensamento, mas não custava compartilhar aquilo.
    Estávamos há pelo menos quinze minutos em silêncio.
- Quer casar comigo? – Perguntei do nada.
    Lavínia me olhou com os olhos arregalados.
- É o quê, meu filho?
    Eu ri.
- Quer casar comigo? – Repeti.
- Mas você disse que não queria casar mais. – Disse.
- Antes de me apaixonar por você. – Contestei. – Sempre quis construir algo concreto em minha vida, mas só encontrei a pessoa certa agora. E nem precisa fazer uma festa imensa. Casamos apenas no civil, eu vendo meus apartamentos e fixo minha estadia aqui... Você é quem escolhe. – Sorri. – O que você acha?
    Lavínia ficou pensativa.
- Por que você acha que eu devo aceitar? – As mulheres e suas perguntas que fazem os homens se irritarem!
- Porque nossa relação já é séria, nos conhecemos há vinte anos e vivemos um quase casamento. – Falei. – Acha pouco?
- Mais ou menos. – Riu.
    Suspirei.
- Eu amo você e você me ama. Nossos pais já aprovaram, sua irmã me adora, e querem muito que nos casemos. – Eu ri. – Eu sou muito tradicional. Não quero continuar fazendo amor com você sem ter algum compromisso sério nos envolvendo. É quase como um abuso sexual de minha parte.
    Ela fez um muxoxo discordando.
- Se fosse eu já teria matado você. Eu tenho uma arma.
    Franzi o cenho.
- Sério?
- Muito sério. – Falou. – Ela está na segunda gaveta de meu guarda roupa, do lado direito, dentro de uma caixa vermelha que tem a foto do Mickey Mouse na tampa.
    Eu ri.
- Muito interessante. – Trancei meus dedos nos seus. – Mas você não respondeu minha pergunta. Você quer ou não casar comigo?
    Lavínia ficou em silêncio. Aquele silêncio perturbador que atormenta qualquer um que espera ansiosamente por uma resposta. Que droga! Por que as mulheres têm que ser tão cruéis com os homens?
- Será que você pode me responder? – Perguntei. Eu estava ansioso.
    Ela riu.
- E você ainda pergunta? – Seu tom foi irônico. – É lógico que eu quero casar com você. Mas será que podemos esperar um pouco?
- Podemos. O tempo que você quiser. – Eu disse. – O importante é que você aceitou.
    Lavínia me beijou.
    Ficamos em silêncio. Foi bom passar por aquela experiência. Lavínia também me amava e agora eu tinha total certeza. Qualquer dúvida que envolvesse minha mente em relação aos seus sentimentos foi dissolvida naquele momento.
    Eu ri.
- Parece que estamos numa dessas comédias românticas que você tanto gosta de assistir. – Observei.
- Por quê? – Ela também riu.
- Sei lá. – Falei. – Somos dois bobos apaixonados, meio melosos, mas há sempre situações engraçadas e tensas nos cercando. Até pensamos em não ficar juntos, tentaram nos separar, mas ainda assim continuamos juntos... E agora você aceita se casar comigo. – Afaguei suas costas. – Isso não lhe lembra nenhum desses filmes que você vê?
    Ela riu.
- Pior que sim. – Concordou. – Mas faltou você se ajoelhar no chão, segurar minha mão e me colocar um anel no dedo.
- Esqueci essa parte. – Dei um meio sorriso. – Mas o pedido já foi feito e aceito. É apenas isso que importa de verdade. Símbolos são apenas complementos.
- Que fofo! – Lavínia apertou minha bochecha. – Meu amor está tão romântico hoje, exceto há mais ou menos uma hora atrás. O que houve?
    Suspirei.
- Não sou romântico, apenas te amo. – Eu disse. – Quando ama alguém, você faz de tudo para agradar essa pessoa, mesmo que ela não reconheça e use o que você sente contra você mesmo. Felizmente, você não é assim, mas muitas pessoas sofrem com um amor platônico.
- E não podem viver uma comédia romântica como a que estamos vivendo, não é? – Seu tom de voz era sério.
    Balancei positivamente a cabeça.
- Mas, para essas pessoas, o melhor momento é aquele quando ela supera esse amor. – Continuou Lavínia. – Quando elas percebem que si próprio vale mais do que uma simples paixão não-correspondida. Como dizem naquele ditado: “Antes só do que mal acompanhado”.
    Rocei seu pescoço.
- Mas nós estamos bem acompanhados. – Beijei seu pescoço. – Por que não vamos desfrutar dessa maravilhosa companhia em seu quarto? O que acha?
    Lavínia me beijou e até me provocou, mas depois me largou.
- Não. Eu quero acabar de ver o filme. – Ela voltou a fitar sua televisão. – Se quiser, espere.
    Dei um muxoxo em reclamação.
- Logo hoje que eu estou tão inclinado a experimentar coisas novas? – Implorei.
- Você está com um fogo. Isso sim. – Riu. – Baixe o facho, meu filho.
    Num movimento rápido, a peguei em meus braços e me levantei. Fui em direção ao seu quarto, lutando contra seu debater ao tentar se livrar de mim.
- Ponha-me no chão, Ian José. – Ela estava gostando. Eu tinha certeza. – Rápido, ou eu vou gritar. Coloque-me no chão.
- Não. E você não pode gritar, pois vai assustar seus vizinhos.
- Eu vou pegar meu revolver. – Ameaçou.
- Não. Você não pode pegá-lo. – Ri. – E, se conseguisse, seria presa por assassinato.
    Tudo agora se tornara uma brincadeira. Coloquei-a em cima da cama e comecei a beijá-la.
- Pare. – Disse ela entre meus lábios. – Eu quero ver como o filme vai acabar.
- Não. Você quer ficar aqui comigo. – Lavínia usava moletons para dormir e eu os tentava retirar. – E é aqui que você vai ficar.
    Ela riu.
- A TV ficou ligada. – Alegou.
- Eu te ajudo com a conta de luz no fim do mês, mas, por favor, não saia daqui. – Foi meu argumento final.
    Lavínia cedeu. Ela sempre cederia para mim.

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