Cap:19
Comédia Romântica
    Ficamos vendo um filme depois que tomamos
banho. Eu não trabalharia no outro dia e Lavínia só sairia à tarde. Como ela
era uma psicóloga particular, trabalhava todos os dias. Dezembro aproximava-se
do fim e o mundo também, pois faltava apenas cinco dias para a data prevista
pela profecia Maia. 21 de dezembro. O fim. Que louco!
    Enfim, estávamos assistindo mais uma
comédia romântica. O interessante era que toda vez que parávamos para ver
filmes Lavínia sempre trazia um diferente. Talvez ela possuísse um arsenal de
300 longas. Meu Deus! Haja paciência! Mas até que o filme era legal. A
protagonista era sexy, continha certa nudez e contava a história de um casal
que se conhecia numa faculdade e se tornavam amigos, depois eles se
apaixonavam, mas o cara traía a garota. Bem clichê, mas interessante. Era
aquele tipo de filme que você já prevê o final, mas ainda assim continua
assistindo.
    Estávamos sentados no sofá. Lavínia com a
cabeça pousada em meu ombro, com as pernas em cima das minhas e eu com os pés
em cima da mesa de centro. Era bom e quentinho. Aconchegante, eu diria. Ela
usava suas pantufas do Mickey.
-
Não sei por que os homens traem. – Disse Lavínia no momento do filme em que a
mocinha descobriu que foi traída. – Os homens não merecem as mulheres, pois
eles são falsos com elas. A mulher nunca é falsa com o homem, só com as amigas.
    Eu ri.
- E
por que só com as amigas?
- Há
situações em que as mulheres precisam ser falsas com as amigas. – Explicou. –
Quando vai dar opinião, por exemplo.
    Olhei para ela.
-
Você é falsa com suas amigas?
-
Quais amigas? – Lavínia foi irônica. – As poucas que tinha, eu não as vejo há
uns oito meses... Só me sobrou você. E com você eu nunca serei falsa.
    Acariciei seu rosto.
- Eu
também nunca serei falso com você, mesmo que eu seja um homem. – Eu ri. – Você
sabe que o que eu sinto é verdadeiro.
    Ela me beijou.
- Eu
sei. E sinto o mesmo. – Lavínia voltou a fitar sua TV. – Mas vamos terminar de
ver o filme, porque eu quero saber se eles vão ficar juntos.
- É
claro que eles vão.
-
Cale a boca! – Disse. – Eu quero ver mesmo assim.
    Eu ri.
-
Tudo bem. Mas até você sabe como esse filme vai acabar.
    Lavínia riu.
-
Ok. Eu sei. Mas eu quero ver. – Falou. – Deixa de ser chato!
-
Tudo bem. Vou deixar de ser chato.
    Lavínia voltou a pousar a cabeça em meu
ombro e focamos apenas no filme. A protagonista ficou desesperada quando soube
da traição, depois o cara começou a cercá-la pedindo para voltar, mas ela não
queria perdoá-lo e ficava naquele impasse: o amava, mas não queria perdoar sua
traição por medo de que acontecesse novamente. Nada que eu nunca tenha visto
antes.
    Foi então que naquele momento pensei numa
coisa e queria dividir com Lavínia. Talvez fosse cedo, mas me veio
repentinamente na mente. E, talvez, ela fosse contra meu pensamento, mas não
custava compartilhar aquilo.
    Estávamos há pelo menos quinze minutos em
silêncio.
-
Quer casar comigo? – Perguntei do nada.
    Lavínia me olhou com os olhos arregalados.
- É
o quê, meu filho?
    Eu ri.
-
Quer casar comigo? – Repeti.
-
Mas você disse que não queria casar mais. – Disse.
-
Antes de me apaixonar por você. – Contestei. – Sempre quis construir algo
concreto em minha vida, mas só encontrei a pessoa certa agora. E nem precisa
fazer uma festa imensa. Casamos apenas no civil, eu vendo meus apartamentos e
fixo minha estadia aqui... Você é quem escolhe. – Sorri. – O que você acha?
    Lavínia ficou pensativa.
-
Por que você acha que eu devo aceitar? – As mulheres e suas perguntas que fazem
os homens se irritarem!
-
Porque nossa relação já é séria, nos conhecemos há vinte anos e vivemos um
quase casamento. – Falei. – Acha pouco?
-
Mais ou menos. – Riu.
    Suspirei.
- Eu
amo você e você me ama. Nossos pais já aprovaram, sua irmã me adora, e querem
muito que nos casemos. – Eu ri. – Eu sou muito tradicional. Não quero continuar
fazendo amor com você sem ter algum compromisso sério nos envolvendo. É quase
como um abuso sexual de minha parte.
    Ela fez um muxoxo discordando.
- Se
fosse eu já teria matado você. Eu tenho uma arma.
    Franzi o cenho.
-
Sério?
-
Muito sério. – Falou. – Ela está na segunda gaveta de meu guarda roupa, do lado
direito, dentro de uma caixa vermelha que tem a foto do Mickey Mouse na tampa.
    Eu ri.
-
Muito interessante. – Trancei meus dedos nos seus. – Mas você não respondeu
minha pergunta. Você quer ou não casar comigo?
    Lavínia ficou em silêncio. Aquele silêncio
perturbador que atormenta qualquer um que espera ansiosamente por uma resposta.
Que droga! Por que as mulheres têm que ser tão cruéis com os homens?
-
Será que você pode me responder? – Perguntei. Eu estava ansioso.
    Ela riu.
- E
você ainda pergunta? – Seu tom foi irônico. – É lógico que eu quero casar com
você. Mas será que podemos esperar um pouco?
-
Podemos. O tempo que você quiser. – Eu disse. – O importante é que você
aceitou.
    Lavínia me beijou.
    Ficamos em silêncio. Foi bom passar por
aquela experiência. Lavínia também me amava e agora eu tinha total certeza.
Qualquer dúvida que envolvesse minha mente em relação aos seus sentimentos foi
dissolvida naquele momento.
    Eu ri.
-
Parece que estamos numa dessas comédias românticas que você tanto gosta de
assistir. – Observei.
-
Por quê? – Ela também riu.
-
Sei lá. – Falei. – Somos dois bobos apaixonados, meio melosos, mas há sempre
situações engraçadas e tensas nos cercando. Até pensamos em não ficar juntos,
tentaram nos separar, mas ainda assim continuamos juntos... E agora você aceita
se casar comigo. – Afaguei suas costas. – Isso não lhe lembra nenhum desses
filmes que você vê?
    Ela riu.
-
Pior que sim. – Concordou. – Mas faltou você se ajoelhar no chão, segurar minha
mão e me colocar um anel no dedo.
-
Esqueci essa parte. – Dei um meio sorriso. – Mas o pedido já foi feito e
aceito. É apenas isso que importa de verdade. Símbolos são apenas complementos.
-
Que fofo! – Lavínia apertou minha bochecha. – Meu amor está tão romântico hoje,
exceto há mais ou menos uma hora atrás. O que houve?
    Suspirei.
-
Não sou romântico, apenas te amo. – Eu disse. – Quando ama alguém, você faz de
tudo para agradar essa pessoa, mesmo que ela não reconheça e use o que você
sente contra você mesmo. Felizmente, você não é assim, mas muitas pessoas
sofrem com um amor platônico.
- E
não podem viver uma comédia romântica como a que estamos vivendo, não é? – Seu
tom de voz era sério.
    Balancei positivamente a cabeça.
-
Mas, para essas pessoas, o melhor momento é aquele quando ela supera esse amor.
– Continuou Lavínia. – Quando elas percebem que si próprio vale mais do que uma
simples paixão não-correspondida. Como dizem naquele ditado: “Antes só do que
mal acompanhado”.
    Rocei seu pescoço.
-
Mas nós estamos bem acompanhados. – Beijei seu pescoço. – Por que não vamos
desfrutar dessa maravilhosa companhia em seu quarto? O que acha?
    Lavínia me beijou e até me provocou, mas
depois me largou.
-
Não. Eu quero acabar de ver o filme. – Ela voltou a fitar sua televisão. – Se
quiser, espere.
    Dei um muxoxo em reclamação.
-
Logo hoje que eu estou tão inclinado a experimentar coisas novas? – Implorei.
-
Você está com um fogo. Isso sim. – Riu. – Baixe o facho, meu filho.
    Num movimento rápido, a peguei em meus
braços e me levantei. Fui em direção ao seu quarto, lutando contra seu debater
ao tentar se livrar de mim.
-
Ponha-me no chão, Ian José. – Ela estava gostando. Eu tinha certeza. – Rápido,
ou eu vou gritar. Coloque-me no chão.
-
Não. E você não pode gritar, pois vai assustar seus vizinhos.
- Eu
vou pegar meu revolver. – Ameaçou.
-
Não. Você não pode pegá-lo. – Ri. – E, se conseguisse, seria presa por
assassinato.
    Tudo agora se tornara uma brincadeira.
Coloquei-a em cima da cama e comecei a beijá-la.
-
Pare. – Disse ela entre meus lábios. – Eu quero ver como o filme vai acabar.
-
Não. Você quer ficar aqui comigo. – Lavínia usava moletons para dormir e eu os
tentava retirar. – E é aqui que você vai ficar.
    Ela riu.
- A
TV ficou ligada. – Alegou.
- Eu
te ajudo com a conta de luz no fim do mês, mas, por favor, não saia daqui. –
Foi meu argumento final.
    Lavínia cedeu. Ela sempre cederia para mim.






Nenhum comentário :
Postar um comentário
-Respondo todos cometários
-Por favor não use palavrões ou palavras ofensivas
-Se seguir o blog sigo o seu de volta
Agradeço por todos cometários