Capítulo 5 – Crítica
Acordei.
Estava em minha cama, sozinho, e com uma
dor de cabeça infernal. Quando abri os olhos e avaliei o quarto, assustei-me.
Parecia que um furacão havia passado por ali. O chão estava coberto pelos
papeis que usava em meu trabalho, meu abajur estava quebrado e até os lençóis
estavam fora da cama. Santo Deus! O que havia acontecido?
Levantei-me e fui procurar Cássia, mas não
havia nenhum sinal dela. Entrei na cozinha e assustei-me mais ainda ao ver uma
velha senhora atarracada cozinhando algo no fogão. Eu estava nu e ela virou-se
bem no momento em que eu entrava.
-
Valei-me minha Nossa Senhora! – Gritou. A panela que ela segurava caiu no chão.
– Virgem Maria! O diabo se soltou!
Peguei outra panela e cobri o dito cujo.
-
Quem é a senhora? – Meu Deus! – E o que está fazendo aqui?
Ela levou a mão ao peito.
-
Meu nome é Doralice. O senhor colocou um anúncio no jornal dizendo que
precisava de uma empregada. A moça que estava aqui me deixou entrar. –
Explicou, tremendo. – Mas, se eu soubesse que o senhor é um tarado, não teria
vindo.
- Eu
não sou um tarado. – Eu começava a me acalmar do susto que tive. – E não estava
esperando que viesse hoje. Peço que me desculpe por isso. – Engoli em seco. –
Vou por uma roupa e em seguida volto para conversar com a senhora sobre esse
emprego.
Eu não conseguia acreditar no que havia
acabado de acontecer.
Fui ao meu quarto e vesti uma roupa. Aquela
foi à maior vergonha que já passei em minha vida. Mas eu sabia que ainda iria
rir daquilo tudo, ou pelo menos esperava isso. Eu estava precisando de uma
empregada e não queria causar uma má impressão na primeira que aparecesse,
embora já houvesse feito isso.
Quando retornei à cozinha, Doralice estava
sentada numa cadeira.
- E
então, podemos conversar agora?
Fui muito paciente ao tentar convencer a
mulher a ficar com o emprego. Ela parecia ser confiável e muito religiosa,
talvez passasse confiança. Fiz uma entrevista calma e pouco demorada, mas que
foi muito promissora. No entanto, naquele momento meu principal foco não era
conseguir uma empregada, mas sim ouvir a opinião crítica de Lavínia sobre
Cássia e tudo o que aconteceu na noite anterior. Queria saber se ela gostou da
minha nova namorada.
- É
óbvio que não gostei dela, Ian! – Gritou ela logo que fiz a pergunta.
Estávamos em meu apartamento.
-
Como você pode se envolver com uma garota que mal conhece e que se ofereceu
como uma mercadoria? – Continuou. – As mulheres têm que se dar mais valor. O
valor que os homens não lhes dão.
-
Mas não foi você mesma que disse que eu precisava de uma noite com alguém?
- Eu
disse. – Assumiu. – Mas você ligou para ela hoje, marcando um novo encontro.
Eu estava sentado no sofá.
- É
apenas um encontro, Lina. – Eu ri. – Não vai passar disso. Já perdi um turno de
trabalho hoje. Os alunos estão bravos porque eu não avisei que iria faltar. E
ainda mal consegui me concentrar no turno da tarde. Prometo que vou com calma
dessa vez.
Ela andava de um lado para o outro.
- Eu
sei que você é muito calmo. – Disse ela. – Demorou quase oito anos para casar
com Ana.
- Por
que você está tão preocupada dessa vez? – Coloquei as mãos na nuca. – Só estou
conhecendo alguém com quem posso me envolver ou não.
-
Estou apenas tentando alertar você. – Falou. – Você é meu irmão de coração e
não quero que sofra mais uma vez por causa de uma mulher que não merece um
terço de seu sofrimento.
Segurei sua mão e a puxei em direção a mim.
- E
eu amo você por causa disso. – Eu disse. Ela se sentou ao meu lado. – Mas eu
prometo que não vou cometer o mesmo erro. Se eu perceber que estou me
envolvendo com alguém totalmente superficial, eu acabo tudo e saio ileso da
confusão.
-
Obrigada.
Levantei-me.
-
Bom, depois de sua análise crítica e psicológica de meu mais novo
relacionamento, que tal tomarmos um pouco de sorvete? – Perguntei. – Confesso
que fiquei inspirado quando fui a sua casa no dia em que me separei de Ana e
comprei um pote de sorvete de cinco quilos também.
-
Invejoso. – Acusou, com ironia. – Mas eu quero sim. E como a casa é sua, mas eu
mando nela, eu mesma vou me servir.
-
Legal. – Ri.
-
Vamos... – Ela também se levantou.
Seu telefone tocou.
-
Minha sogra? – Ela parecia surpresa, mas atendeu mesmo assim. – Pode falar.
A mulher do outro lado provavelmente lhe
perguntou alguma coisa.
-
Não. – Respondeu Lavínia, num tom de voz que começava a ficar preocupado. –
Wesley me falou que iria para sua casa e que por isso não viria para a minha.
Ela aguardou mais uma vez a pessoa do outro
lado da linha falar.
- A
senhora já tentou ligar para Cléber? Eles sempre saem para beber depois do
trabalho.
Dessa vez ela aguardou por menos tempo.
-
Tudo bem. Eu ligo. Um beijo.
Mal a ligação foi encerrada e Lavínia já
mapeou alguma coisa em seu telefone.
Franzi o cenho.
- O
que houve?
Ela não me olhava.
-
Wesley falou que iria para a casa da mãe dele há duas horas e não chegou ainda.
– Disse. – Ela está preocupada, porque liga para o celular dele e só cai na
caixa postal.
O celular de Lavínia tocou de novo.
-
Alô? – Ela franziu o cenho enquanto ouvia com atenção. – Sim. Sou eu mesma. –
Mais uma vez ela ouviu com atenção. Em seguida sua expressão tornou-se
perplexa. – O quê?por(vitoria silva)